___Texto que publiquei, ontem, no meu blog. Como eu acabo falando de swing no final, creio que cabe aqui. Segue abaixo.
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___Imaginem como deve ser horrível terminar uma peça e ninguém aplaudir. Ou uma palestra sendo concluída sem nem um simples bater de palmas. Horrível, não? Dificilmente palestrantes ou atores não sairiam arrasados do lugar. Porém, admitam, por mais chata que seja a situação, ela é minimamente plausível.
___Agora, como um simples exercício, vamos inverter a situação. Concebam o absurdo que seria se, durante toda a palestra, o público resolvesse aplaudir descontroladamente. O pobre professor se matando para tentar explicar o complicadíssimo conceito de como é possível interpretar o Mito da Caverna sob um viés foucaultiano e as pessoas batendo palmas e berrando sem parar. Nem o palestrante conseguiria ouvir a própria voz, imaginem o resto da platéia.
___O mesmo para o teatro. Primeira Cena, do Terceiro Ato, de Hamlet. Por um lado do palco saem o Rei e Polônio; do outro, entra Hamlet. Como os aplausos ainda estão fortes pela saída dos outros dois atores, aquele que interpreta Hamlet espera um pouco antes de começar seu famoso monólogo. Assim que finalmente o silêncio se instaura, ele começa:
Ser ou não ser... Eis a – UUUUUUUURRRRUUULLLL! Clap, clap, clap... É isso aí, Hamlet! – ... e dar-lhes fim tentando resistir-lhes? Morrer... dormir... mais nad – CLAP, CLAP, CLAP, CLAP, CLAP! – ...lução para almejar-se. Morrer.., dormir... dormir... Talvez sonhar... É aí que bate o ponto. O não Sab – FIIIIIIIIIIIIIIUUUUUUUU! Tá mandando muito, ô birutinha! – ... faz covardes a consciência. Desta arte o natural frescor de nossa resolução – Clap, clap... GATÃÃÃÃO! Clap, clap... – ... reflexões, e até o nome de ação perdem. Mas, silêncio! Aí vem vindo a bela Ofélia. Em – GOSTOSAAAA! Clap, clap, clap... Quebra tudo, Ofélia! Se joga!
___“Ah, Mauricio, mas é uma homenagem a quem está lá na frente.”. Homenagem maior seria prestar atenção e, depois, aplaudir – respondo eu. “Ah, Mauricio, ninguém faz isso em uma peça ou palestra.”. Fazem sim (não de maneira tão exagerada) e eu sempre acho desrespeitoso. “Ah, Mauricio, palestrantes e atores têm como contornar isso. É só esperar que o público pára e aí o cara continua a fala.”. Minha grande questão é: e se eles não puderem esperar?
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___Ao dançar – é sempre bom lembrar –, os dançarinos estão interpretando uma música. Uma música contínua, que não pára e espera os aplausos, que começaram no meio dela, pararem. Abafar o som da música com barulhos ensandecidos só destrói parte da beleza do que está sendo feito. Uma dança não é composta só de movimentos ao léu.
___Olhem uma coreografia de samba de gafieira com Jimmy de Oliveira, Suellen Violante, Leo Fortes e Robertinha.
___Os aplausos, gritos e afins estimulam quem está dançando? Claro. Só que um coreógrafo obviamente não fica nada estimulado em trabalhar com cada detalhe de uma música se sabe que ninguém vai conseguir ouvi-la. Estímulo maior – para dançarinos e coreógrafos – seria prestar atenção ao que está sendo mostrado, entender a coreografia e, então, quando a apresentação terminar, aplaudir até as mãos sangrarem.
___Discordam de mim? Acham que eu sou um chato idiota por escrever isso? Se quiserem, agora, é só encher os comentários de vaias. Entretanto, fico satisfeito por imaginar que vocês leram o texto até o fim – e em silêncio.
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P.P.S.: Já que eu falei de West Coast Swing, da Cintia Fiaschi e do Edson Modesto, vale citar que hoje começou o congresso de dança que eles estão organizando, o West em Sampa. Vai até dia 25 de junho. Mais informações aqui.